Uma nova fase para o blog?

Este blog tem estado moribundo há bastante tempo, uns dois ou três anos? Talvez mais? Nem sei bem, a dada altura perdi a motivação para descrever as minhas viagens e demorei bastante tempo até perceber o que aconteceu.

Mas antes de entrar em lamentos, vou contar um pouco da história deste blog…

Como tudo começou…

Tudo começou em 2008, numa altura em que as redes sociais ainda não eram uma parte essencial das nossas vidas. O Facebook ainda nem era popular (sinceramente eu nem sequer ainda sabia o que era), o hi5 devia estar já a morrer e o myspace acho que nem nunca foi popular em Portugal. Instagram então ainda nem sequer tinha sido lançado.

Nesta altura os blogs eram populares, blogs de noticias, blogs de amigos e até alguns blogs menos politicamente correctos (quem ainda se lembra de O meu pipi?) mas que atingiram patamares elevados de fama. Os blogs também eram uma forma de divulgar o nosso quotidiano para amigos e familia, principalmente para quem vive longe. E foi assim que eu comecei com este blog.

Quando fui de Erasmus para a Alemanha senti esta necessidade, de partilhar um pouco da minha nova aventura com amigos e familia. E sei que alguns até esperavam pelo novo post, alguns até me chegavam a perguntar onde ia a seguir ou do que iria falar. Não era um blog de viagens, mas sim um blog do meu quotidiano enquanto vivia a minha primeira aventura internacional. Na hora de escolher o nome para o blog pensei em escolher algo que refletisse o que sentia, a distância a que estava de casa. O primeiro nome foi 2698km weg, com um cálculo rápido nos mapas da google vi a distância a que estaria de casa e escolhi esse nome para o blog. Escrevi mesmo muitos artigos, segundo esta retrospetiva escrevi 121 posts em 15 meses o que dá uma média de 2 posts por semana. Não tinha absolutamente audiência nenhuma em mente, simplesmente escrevia porque gostava, e o facto de ter gente que gostava de ler era apenas um bónus. Claro que o objetivo inicial era de partilhar o quotidiano com amigos e familia, como disse antes, mas quando escrevia só escrevia pelo próprio prazer.

Outras aventuras, mesmo blog

A fase que se segue foi a melhor do blog. Fui para a Grécia num estágio de 6 meses e continuei a escrever sobre o meu quotidiano, com a diferença que agora estava num destino bastante mais popular. Comecei a receber imensos comentários nos posts que escrevia, mas continua fiel a mim mesmo. Sem filtros, com um humor bastante questionável, mas genuíno.

Como viajei imenso durante aqueles 6 meses também escrevi imensos posts de viagem, mas em nada estruturados. Todos eles descreviam as minhas viagens do meu ponto de vista, em que falei de momentos com amigos, aventuras e desventuras, mas poucos detalhes sobre os destinos que visitei. E absolutamente nenhum artigo estilo “10 locais a visitar em X”.

Nesta fase também o blog mudou de nome, Finja, finja até que atinja. Este nome foi escolhido por ter sido uma das frases que ouvimos durante o estágio em Portugal antes de embarcarmos nas nossas aventuras, então decidi adoptá-la para o nome do blog. Para ser sincero, em nada se reflecte com a experiência.

Opiniões

Ao voltar a Portugal passei por uma fase menos boa para mim, um pouco de depressão pós “emigrante”. Há quem até chame depressão pós Erasmus, parece ser real. Mas no meu caso senti que era dupla, Erasmus na Alemanha e logo de seguida mais seis meses noutro país para depois voltar a casa dos pais, desempregado e à procura de emprego urgentemente para pagar o empréstimo que tinha feito para pagar os estudos.

Nesta fase não tinha nada para escrever sobre viagens. Aliás, nem sequer tinha dinheiro para viajar. 13 anos depois olho para trás e ainda me faz confusão como raio conseguia sobreviver em Portugal com um salário de 800€, a pagar renda e a pagar um empréstimo. Sobravam-me cerca de 200€ por mês para comer e “viver”. Para reflectir a forma como me sentia dei um novo nome ao blog, The real life of a lifeless. Era mesmo assim que me sentia, sobrevivia.

O gosto por escrever sempre se manteve, nesta fase escrevi vários artigos de opinião e comecei também a escrever em inglês. Queria voltar a emigrar, mas precisava de melhorar o meu nível de inglês, e que melhor forma que praticar? O meu inglês era bastante mau na altura…

O blog de viagens…

E se o interesse, de outros, pelo blog já estava a cair, acho que foi nesta fase que o dei uma das últimas grandes facadas.

Mudei-me para a Irlanda, conheci mais pessoas com blogs de viagem que vieram a torná-los extremamente populares e decidi seguir-lhes os passos. E foi aqui que me perdi. Em vez de ser fiel a mim mesmo, e confiar que quem me encontra é porque gosta da forma como eu escrevo e sobre o que eu escrevo, decidi imitar a fórmula que funciona para outras pessoas mas que claramente não é quem eu sou.

Um dos maiores erros que cometi com o blog foi uma limpeza de artigos. Em vez de os arquivar ou ocultá-los decidi apagar todos aqueles artigos cuja qualidade era inferior para uma audiência “exigente” que nem sequer existia. Apaguei artigos que hoje em dia me fariam corar de vergonha, mas ainda assim mostravam a pessoa que eu era nessa altura. Quando releio alguns dos artigos que sobreviveram a essa limpeza sinto um misto de vergonha e nostalgia. Até a forma como eu escrevia era diferente, uma eloquência diferente e mais crua.

Seguindo a fórmula de outros comecei a escrever artigos apenas a descrever os locais que visitava, e artigos destes existem aos milhares na internet. Comecei a escrever em inglês a pensar que iria chegar a uma audiência mais vasta, mas sem perceber que estava a competir com muito mais pessoas em vez de me focar no meu nicho. E foi também nesta altura que comecei a olhar cada vez mais para as estatísticas e a tentar combater as tendências.

Li imensos artigos, ouvi imensos podcasts, sempre a tentar aprender sobre marketing digital e blogging. Mas algo que demorei demasiado tempo a aprender é que tudo isto vale pouco quando não escrevemos com alma. Escrevia por gosto, isso nunca mudou, mas não escrevia com alma e acho que isso se notava.

Também convém aceitar que as tecnologias mudam, blogs deixaram de ser populares, agora temos Facebook que para uma geração inteira era “a internet”, Twitter para microblogging como era divulgado na altura. Artigos logos, como este, são um tédio. Estamos numa era de consumo rápido e fácil. Instagram é perfeito para isto, uma imagem vale mais do que 1000 palavras.

O facto de o blog perder o rumo não foi somente por eu ter deixado de transpirar a minha essência para as palavras que escrevia neste blog, mas sim também o facto de ter insistido numa tecnologia que já estava a passar de moda. Nunca tentei YouTube quando era uma moda, sempre um velho do Restelo a resistir as novas tendências, mas ainda assim insistia em mudar uma tendência que não dependia de mim. Perdi a motivação.

Agora que escrevo isto, vejo que o nome do blog acabou por ser uma sátira a mim mesmo. O nome Look Left seria para me não me esquecer de ser eu mesmo, mas foi mesmo nesta fase que deixei o meu “eu” de lado.

Novo rumo, nova fase ou nada?

Se chegaram até aqui então também devem ter notado um padrão, por várias vezes disse que tenho o gosto para escrita. Isso nunca mudou. Há cerca de dois anos comecei a planear um livro para me ajudar com a minha saúde mental, precisava de uma realidade nova para desanuviar da minha realidade quotidiana. Pouco escrevi mas pensar nesse mundo novo, desenhar um mapa desse mundo, definir os povos que lá habitam, cultura, sociedade e muito mais fez-me perceber que é mesmo disso que eu gosto. Escrita criativa. Foi assim que comecei, quando escrevia sobre o meu quotidiano deixava fluir a minha criatividade. Ao descrever as minhas aventuras, ao usar o meu humor característico na minha escrita, tudo isso é escrita criativa e é disso que eu gosto. Criar algo, com base na vida real ou em ficção, mas criar algo.

Quando comecei a planear o livro nunca foi com o intuito de o publicar. A ideia simplesmente era puxar pela minha criatividade. Mas visto que me tenho focado bem mais na parte da criação do mundo e quase nada na escrita comecei a pensar de que outras formas poderia escrever e dar asas à minha criatividade. Foi aí que me ocorreu esta nova fase

E se eu começasse a escrever contos de aventuras com base nas minhas viagens? Não será um voltar às origens, não será mais uma fase de “blog de viagens”, mas sim de contos inspirados na minha vida mas com personagens fictícias e muitos detalhes e aventuras imaginadas.

Sobre público alvo? Eu mesmo. Vou escrever para mim mesmo. Confesso com algumas esperanças de que haja alguém que goste de ler esses contos e que se ria com a forma como escrevo. Mas quero mesmo elevar a minha criatividade, e para tal preciso de praticar a fazer algo que gosto.

E falando em origens, este artigo é publicado sem imagens, sem capa, sem pensar em visualizações. Já os contos, logo vejo o que faço… o primeiro estará disponível quando calhar. Sem promessas.


Comentários

2 comentários a “Uma nova fase para o blog?”

  1. Avatar de rocioreguera1
    rocioreguera1

    Gostei de ler. Welcome back. Saludos desde Espanha.

    1. Gracias!

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