Cairns e Mission Beach, dos céus ao fundo do mar

Cairns e Mission Beach, dos céus ao fundo do mar

Cairns é uma das principais cidades mais a norte do estado de Queensland, na Austrália. É uma cidade muito turística, principalmente devido à Grande Barreira de Coral, pois é uma das portas de entrada para este paraíso subaquático. Foi também onde tive duas das experiência mais incríveis da minha vida!

A minha viagem pela Austrália não correu exactamente como previa. A intenção era viajar conforme me fosse adaptando, mas o meu lado gabarolas e com uma grande dose de jet lag acabei por “estragar” estes planos todos logo no primeiro dia neste país. Enquanto algumas coisas correram bastante bem, como reservar com bastante antecedência três dias numa ilha fantástica, outras coisas não foram assim tão simples.

Quando cheguei à Austrália tinha apenas um calendário de onde queria estar em determinadas semanas. Uma forma de ter algum controlo, mas também bastante flexibilidade. No entanto, reservar várias coisas acabou por tirar muita dessa flexibilidade e, noutras coisas, até tive alguma sorte na forma como fiz as reservas (e poderiam ter corrido bastante mal). Exemplo disso foi esta passagem por Cairns.

Uns dias antes da viagem para Cairns e… Mission Beach…

Mas este artigo não era sobre Cairns? Sim, também é… Mas pelo caminho ainda fica outro local por onde passei por um par de horas, mas que merece uma secção só para falar nesta experiência.

Como referi antes, fiz reservas para muitas actividades ao longo dos dois meses na Austrália. Uma das coisas que me convenceram a marcar foi um salto de para-quedas… Eu que tenho vertigens? Foi das actividades que mais resistência coloquei em marcar, mas a rapariga da agência insistiu imenso e conseguiu convencer-me a marcar, com promessa de reembolso a 100% caso decidisse desistir. Ao que ela me disse que esperava mesmo que eu não mudasse de ideias.

De realçar que esta marcação foi feita com mais de um mês de antecedência, durante este tempo o receio passou a excitação. Falei com várias pessoas que já tinham saltado e todas me disseram o mesmo: Melhor sensação da vida delas! Um alemão até me disse que ia em breve fazer o salto de exame para poder começar a saltar sozinho! O amigo google também ajudou e aparentemente as probabilidades de ter um acidente de para-quedas são mesmo muito baixas.

O nervosismo antes do salto

Misson Beach fica a cerca de 2 horas a sul de Cairns, em plena zona tropical. E o que acontece nas zonas tropicais? O tempo é mesmo muito imprevisível e isso pode estragar planos assim do nada. E para poder saltar de para-quedas, não só tem de estar bom tempo como não podem haver nuvens (pelo menos na Austrália). Quando comecei a ver a previsão meteorológica para os dias seguintes a excitação voltou a transformar-se em receio. Desta vez não porque estava com medo de saltar (sim, também tinha medo), mas sim porque o salto poderia vir a ser cancelado! E já não tinha espaço no meu calendário para uma remarcação. Tinha mesmo de ser naquele dia!

Antes do salto de para-quedas
Antes do salto de para-quedas

A má gestão do calendário resultou numa viagem bem cansativa. 9 horas de viagem de autocarro, com partida para Cairns pelas 8 da noite. Não tinha opção de viagem directa para Mission Beach, mas tinha transbordo organizado de Cairns para Mission Beach. Chegada a Cairns e apenas meia-hora de espera para o transbordo. Mais duas horas de viagem até Mission Beach. Sim, andei a viajar por quase 12 horas antes de saltar de para-quedas. Medo? Qual medo, estava era cansado! Queria era dormir!

Preparado para saltar de para-quedas em Mission Beach

Quando estava em Airlie Beach decidi fazer uma alteração nos planos do salto. Se é para ser o baptismo de salto, que seja bem registado! Então paguei 294AUD adicionais para ter um outro instrutor a saltar à minha frente e registar o meu salto de outra perspectiva! Sim, foi caro. Mas foi um momento que quis registar. Poupei em muita coisa antes da viagem à Austrália e poupei também em alojamento, comida e transportes, mas quando viajo jamais poupo em experiências!

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Assim que faço o check-in apercebo-me que vou logo no primeiro grupo! Isto de viajar sozinho por vezes também tem vantagens! Estava nervoso, mas mais calmo do que pensava que iria estar. Detalhe desnecessário, mas no dia anterior estava de diarreia…, muito provavelmente devido a um nervozinho de que nem tinha bem noção…

Para o aeródromo e para os céus!

A parte mais complicada do salto foi mesmo a viagem até ao aeródromo. Da zona do escritório ao aeródromo foi uma viagem de 20 minutos num pequeno autocarro. Silêncio absoluto, todos sentados em bancos diferentes, ninguém a falar. Aí comecei a sentir os nervos a apertarem…

Chego ao aeródromo e vejo a lata de sardinhas com asas onde me ia meter. Avião bem pequeno, com duas barras paralelas a fazerem de “bancos”, para podermos deslizar para a nossa posição. Descubro então que seria o segundo a saltar!

Conforme subíamos ia ficando cada vez mais nervoso e cheguei mesmo a pensar em desistir. Mas olhava à minha volta e pensava para comigo, não vou ser o primeiro a desistir! O chato é que também era o segundo a saltar, não havia muita volta a dar. No entanto já lá em cima fiquei mais calmo, olhar lá para baixo já parecia uma pintura. Não tinha muita bem noção da altitude, acho que o nosso cérebro não consegue processar muito bem essa distância.

O baptismo de salto de para-quedas

Eis que chega a vez do primeiro a saltar, é que nem o vi a cair, ele desapareceu logo! O outro instrutor já estava completamente fora do avião, agarrado do lado de fora. Surreal! Logo de seguida, o meu instrutor puxa-me para a porta e fico sentado já quase todo de fora do avião. Ele ameaça uma vez e à segunda já estávamos a cair… Acho que o susto durou um instante apenas e dá para ver no vídeo em que abro e fecho logo os braços. A partir daí foi adrenalina pura!

Uma sensação brutalíssima, que nem sei bem como descrever! No ar ainda deu para “brincar” com o outro instrutor, mas confesso que apanhei dois sustos por não estar preparado para o que estava para acontecer. Ele fez-nos rodar por duas vezes, da primeira vez fiquei mesmo assustado, mas da segunda já me diverti! E o segundo susto foi quando ele abriu o para-quedas porque eu estava com foco no outro instrutor que simplesmente desapareceu do meu raio de visão. Ele continuou a cair (para filmar a minha chegada), enquanto nós já estávamos a planar!

Se aqueles 30 ou 40 segundos a cair foram brutais, o planar foi também excelente. Algumas manobras no ar e umas reviravoltas, parecia que estava numa montanha russa… É indiscritível aquela sensação de estar a ver partes da Grande Barreira de Coral e até dar para conseguir distinguir uma tartaruga a nadar! E aterrar na praia foi bem suave, uma aventura incrível!

De volta a Cairns para outra aventura

Depois de muita adrenalina acabei por pagar mais um extra para também ter as fotos. Porque não? Vídeo e fotos… Por fim, depois de esperar bastante, lá voltei para Cairns. Ao chegar ao hostel voltei a encontrar pessoal que tinha já conhecido antes. Mais uma vez, a fazer o caminho de todos os mochileiros…

Depois de tanto viajar, do salto e da adrenalina, cair na cama foi muito fácil. Na manhã seguinte voltei a acordar bem cedo para mais outra aventura. Fui directamente para a zona dos barcos, nem cheguei a ver bem a cidade de Cairns. O objectivo da passagem por aquela cidade era outro, visitar a Grande Barreira de Coral! E, finalmente, chegou a hora.

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Sim, é verdade! No espaço de 24 horas saltei de para-quedas e mergulhei na Grande Barreira de Coral! Mas esta falta de planeamento poderia ter corrido bastante mal se tivesse marcado as coisas ao contrário. Já dentro do barco perguntaram se alguém iria voar nas próximas 48 horas. Devido à descompressão, é extremamente perigoso voar nas 24 horas depois de fazer mergulho. Pode mesmo matar. Agora imaginem se tivesse feito os planos ao contrário…

O baptismo de mergulho

Ah sim, também foi um baptismo! Não só tive duas experiências brutais em 24 horas como também tive dois baptismos! E este ficou mesmo como uma nova paixão, ao ponto de já ter viajado de propósito só para mergulho!

A viagem até à Grande Barreira de Coral demorou 2 horas num grande catamarã. Fizemos um debriefing antes do mergulho e, como o pessoal do meu grupo não tinha curso de mergulho, a experiência foi algo diferente. Bem faseada para nos prepararmos para a descida, com instruções bem claras e aprendemos também alguns sinais básicos de mergulho.

A preparar-me para o mergulho
A preparar-me para o mergulho

O mar estava bastante bravo e estava a chover. A parte da chuva não me incomodou absolutamente nada, afinal de contas iríamos para dentro de água. Agora o mar bravo já assustou um pouco.

Para os iniciantes a entrada foi bem faseada, entrámos todos para a água pelas traseiras do catamarã e agarrámo-nos a um cabo que ia de uma plataforma de entrada à outra. De realçar que, como o mar estava agitado e estávamos agarrados a um cabo que faz parte do barco, sentimos os movimentos todos do mar. Além de todo o material de mergulho que estava às costas. Depois, para equalizar os ouvidos, descemos cerca de um metro para outro cabo, aí obviamente já com as máscaras colocadas. E mais uma vez, a sentirmos o mar bem bravo.

O primeiro mergulho

Foi bastante assustador, parecia que não conseguia controlar a forma de nadar. Além do mais, estávamos todos de braços dados, visto que era o nosso baptismo de mergulho. O instrutor ao meio e mais dois de cada lado, quase como se fôssemos uma plataforma. A minha ansiedade estava bem alta, ao ponto de o instrutor perceber isso pela forma como eu estava a respirar.

Corais no primeiro mergulho
Corais no primeiro mergulho

Chegámos mesmo muito perto dos corais, o que foi bastante assustador para mim. Eu já sentia que não tinha controlo na forma como estava a nada, e aquela proximidade dos corais deixou-me ainda com mais medo de não estragar nada devido à minha falta de destreza. Mas foi uma experiência brutal, curiosamente senti mais medo do que saltar de para-quedas. Faz sentido? Pois, eu também acho que não…

Depois do mergulho ainda deu tempo para fazermos snorkel. Não foi tão brutal como mergulho, mas fazer snorkel na Grande Barreira de Coral não deixa de ser uma experiência única!

O segundo mergulho

Almoçámos e durante o almoço decidi pagar 45AUD para outro mergulho! Sim, mais uma vez não me poupei a gastos no que toca a experiências.

O mar estava bem mais calmo neste novo local e a experiência também correu bem melhor! Talvez devido ao facto de já ter mergulhado na parte da manhã e já me sentir mais confiante.

Estrutura de corais no segundo mergulho
Estrutura de corais no segundo mergulho

Neste mergulho, o instrutor largou-me por algumas vezes e mandou-me ir para o fundo. Fez o gesto com as mãos e eu, a muito medo, lá fui. O medo não era pelo mar, mas sim pelo simples facto de eu sentir que não conseguia controlar tão bem a forma como nadava e poder danificar algum coral. Felizmente tudo correu pelo melhor. A certa altura fomos mesmo até ao fundo do mar onde vimos algumas raias. Que sensação brutal! Estávamos a cerca de um metro delas, primeiro camufladas debaixo da areia até que depois começaram a nadar, com uma graciosidade como que se estivessem a voar.

Voltámos para o barco e depois fui fazer mais um pouco de snorkel. Essa actividade era gratuita e sem muitas restrições. Foi aí que vi o quão perigosas as medusas também podem ser. Um rapaz que estava no nosso grupo foi tocado por um tentáculo de uma medusa na zona do pescoço e parecia que tinha levado com um arame em brasa! Mesmo queimado! Isso explica bem o motivo de termos de usar um fato de mergulho muito fino Trata-se de uma protecção unicamente contra as medusas, pois a água até está bem agradável.

O que fazer em Cairns?

De volta a Cairns e ao hostel volto a encontrar mais gente, que conheci na ilha de Fraser e em Surfers Paradise. É que os turistas fazem todos a mesma rota…

Pouco vi de Cairns, foram dois dias bem cansativos e tinha planos para o dia seguinte também. Cidades nunca foi algo que me puxasse e raramente sinto que tenha perdido muito. Pelo que pesquisei, Cairns é muito como um ponto de passagem ou de base para muitos locais. Foi também o que fiz quando passei pela cidade.

Cairns e Mission Beach, dos céus ao fundo do mar
Cairns e Mission Beach, dos céus ao fundo do mar

Usei como base para ir a Mission Beach saltar de para-quedas, depois no dia seguinte para ir fazer mergulho, e também para outra aventura para conhecer algumas cascatas e outros locais brutais.

A minha recomendação é a de pesquisarem por excursões a partir de Cairns. A cidade fica bastante bem localizada, fica “perto” da Floresta Tropical (na Austrália “perto” tem uma interpretação muito aberta). Podem passar por um rio infestado de crocodilos, ir à Grande Barreira de Coral, visitar o Planalto Atherton. E muito mais.

Independentemente das condições meteorológicas, existe sempre muito para fazer a partir de Cairns. A cidade em si pode não ser motivo de visita, mas é sem sombra de dúvidas uma excelente cidade base para conhecer muito desta zona tropical da Austrália.

Onde fica Cairns e Mission Beach?

Cairns e Mission Beach ficam na Costa Este da Austrália, no estado de Queensland, que tem o cognome de “Solarengo”. Até nas matriculas dos carros deste estado isso aparece escrito. Ambas estas cidades ficam já na faixa entre o Trópico de Capricórnio e o Equador, ou seja, por definição tem clima tropical.

Para chegar a Cairns existem várias opções. Eu, como estava a viajar de autocarro, foi mesmo esse meio de transporte que usei. Mas Cairns também tem um aeroporto, e quem tem menos tempo para “perder” em viagens de oito, nove ou dez horas, então é a opção ideal.

Também dá para chegar a Cairns de comboio, é uma forma mais confortável e com os comboios rápidos até dá para viajar pela costa de Queensland entre várias cidades.

Para Mission Beach as opções mais mais reduzidas. O melhor mesmo é usar os autocarros e a rede Greyhound é bastante popular e tem uma rede muito boa nesta costa da Austrália. De comboio também dá, mas a estação de comboios mais próxima fica a 22 km, o que para a Austrália é “já ali ao lado”.

Visitar Cairns quando se visita a Austrália é, a meu ver, uma excelente aposta. Para passarem uns dias na cidade, usá-la como base para muitas aventuras e se deixarem apaixonar mais um pouco pela Austrália.

Por Gil Sousa

Português emigrado em Cork, viajante e apreciador de boa comida.

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