Visitar Cienfuegos e Playa Girón por uns dias para mergulho

Visitar Cienfuegos e Playa Girón por uns dias para mergulho

Quando planeei a viagem nem sequer pensei em ficar em Cienfuegos, como sabem não sou menino de cidades, e colocar mais uma cidade na minha lista de locais a visitar em Cuba não fazia muito sentido. No entanto, o meu destino seria Playa Girón, onde iria fazer mergulho, mas sem grandes opções de transporte directo a partir de Viñales. A melhor opção seria mesmo via Cienfuegos, ou talvez taxi colectivo.

De Viñales a Cienfuegos

A viagem de autocarro foi a mais longa que tive em Cuba, mas tudo parte dos planos. Levantei-me bem cedo, tomei um pequeno-almoço na casa particular em Viñales, e segui para a praça central de Viñales onde fiz o check-in e fui esperar sentado nas escadarias da igreja. Sim, é necessário fazer check-in para os autocarros em Cuba. E segundo me disseram, comprar bilhete antecipadamente não garante lugar no autocarro. Convém mesmo chegar mais cedo e fazer o check-in. Felizmente não tive nenhuma situação do género, portanto não tenho como confirmar se esta informação é verdadeira ou não. Mas por via das dúvidas…

Praça da Igreja em Viñales
Praça da Igreja em Viñales

Foi uma viagem de 8 horas, com algumas paragens para o xixi e almoço. Nada de extraordinário, e completamente banal. Fui aproveitando para ver as vistas e conhecer um pouco mais Cuba pela janela de um autocarro. É um país muito rural, e dá para perceber pelas casas que as pessoas também vivem essencialmente para o dia a dia. Casas muito modestas, e com muito terreno cultivado à volta.

A paragem para almoço fez-me lembrar Portugal nos anos 90, em que existe aquele restaurante de paragem obrigatória para camionistas e autocarros, com a opção de um buffet ou sandes. Se calhar ainda funciona assim em Portugal e estou aqui a fazer uma generalização muito elitista… Corrijam-me se estou errado, mas a ideia que tenho é que com as estradas em Portugal as rotas são quase sempre directas sem paragens intermédias.

Visita supersónica a Cienfuegos

Ao chegar a Cienfuegos senti logo um arrependimento de ter planeado a minha viagem sem contar com aquela cidade. O estilo arquitectónico é muito interessante, com uma vibe de francês. Mais tarde percebi o porquê de pensar em New Orleans e de França clássica ao entrar na cidade, simplesmente porque foi uma cidade fundada por emigrantes franceses de Bordeaux e do Louisiana, com o intuito de aumentar a percentagem de famílias de brancos na ilha.

Algumas fotos de Cienfuegos
Algumas fotos de Cienfuegos

Além do estilo arquitectónico predominante, o planeamento urbanístico também tem um estilo bastante clássico, em forma ortogonal a convergir para uma praça principal, onde existe um selo que marca a origem da cidade. De facto, uma tarde e uma noite não é o suficiente para conhecer aquela cidade, e foi uma sensação de arrependimento muito grande ao perceber isso. Ainda assim, tentei aproveitar cada segundo da minha estadia na cidade.

Com algum calor, e apenas com bagagem às costas, lá fui até à casa particular a pé. Ainda foram uns dois quilómetros, e pelo caminho deu para ficar com uma sensação ainda melhor da cidade. Nota-se a pobreza de Cuba, mas também um charme clássico.

Primeiras impressões de Cienfuegos

Assim que cheguei à casa particular a primeira coisa que fiz foi perguntar o que ver numa tarde. O meu anfitrião fez um roteiro perfeito para algumas horas, o qual segui à risca. Tentei aproveitar ao máximo e sentir o arrependimento de ter de ir embora na manhã seguinte a crescer cada vez mais…

Palácio do Governo e Museu Provincial
Palácio do Governo e Museu Provincial

O pôr-do-sol teria de ser na Punta Gorda, e para lá chegar teria de caminhar uns 3 ou 4km. Isso, ou apanhar um bicitaxi. Como adoro andar a pé, e não me apetecia estar a gastar dinheiro por um passeiozinho, optei por arriscar e andar sempre a pé.

Como ainda tinha a tarde toda, fui logo para o centro histórico, onde está o selo da fundação da cidade. Não parei de tirar fotos, às casas antigas, à igreja, aos carros clássicos e ao céu que já estava lindo. Tentei perder-me um pouco por aquelas ruas, mas sempre em direcção à baia, que a partir daí seguiria sempre junto à água. Não havia nada que enganar. Perder-me e chegar à Punta Gorda.

Caminhada até Punta Gorda

A caminhada até à Punta Gorda foi bem relaxante, um pouco longa mas sempre com vista para a baia, o que obviamente aproveitei para ir tirando algumas fotos. Infelizmente a baia de Cienfuegos está demasiado poluída para se poder nadar, ainda assim muitas pessoas locais vão às pequenas praias da baia. Mesmo em relação a comer peixe, foram várias as vezes que me recomendaram a não comer peixe em Cienfuegos pelo mesmo motivo.

Visitar Cienfuegos e Playa Girón por uns dias para mergulho

Depois de uns 5 ou 6 km a andar, lá cheguei à Punta Gorda. Na casa particular recomendaram-me a aproveitar o pôr-do-sol no Palácio de Valle. Quando lá cheguei fiquei logo com uma boa impressão, o Palácio de Valle é um pequeno palácio mesmo no final da peninsula, com um estilo clássico e com um terraço magnífico. Hoje em dia funciona como restaurante, bar e para eventos. O bar fica no terraço, e se tiverem a sorte que eu tive conseguem uma mesa mesmo do lado da baia! A vista é brutal, e o pôr-do-sol incrível! E não sei se foi sorte ou não, mas durante o tempo todo em que lá estive a desfrutar de algumas piña-coladas esteve uma banda a tocar músicas cubanas, essencialmente salsa. Foi mesmo bem agradável!

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Claro que depois de uma caminhada até à Punta Gorda, teria de regressar. Junto ao palácio já estavam algumas bici-taxis à espera dos turistas. Alguns até já tinham reserva agendada, ouvi duas raparigas a combinarem com o taxista para as irem buscar passado algum tempo. E por coincidência chegaram e partiram ao mesmo tempo que eu. Mas eu fui a pé! Não só por ser forreta, o que sou um pouco…, mas também porque queria aproveitar a caminhada de volta até à casa particular. Com uma paragem para jantar pelo caminho.

O jantar foi a parte menos agradável do dia, mais outra recomendação da casa particular mas a única em que de facto me deixou algo desiludido. Assim que cheguei fiquei com vontade de voltar para trás, quem me recebeu olhou-me de alto abaixo e não achou muita piada a um gajo em havaianas ir jantar sozinho…, mas lá me deixaram entrar, e mandaram para o terraço.

Pôr-do-sol em Punta Gorda
Pôr-do-sol em Punta Gorda

Logo aí achei que poderia ser bom, com o calor que estava seria agradável comer na rua. Mas fui logo desenganado quando me tentaram sentar junto à banda, mas literalmente junto à banda… recusei, queria ouvir musica mas sem ficar surdo. Lá me colocaram numa outra mesa mais afastada, e até foi bom… não fosse o facto de os empregados estarem constantemente a colocarem-se à minha frente para verem a banda. Sim, literalmente parados a ouvir a banda à espera que alguém os chamasse, ignorando totalmente que atrás deles estava outro cliente. Mas enfim, em geral até foram simpáticos. Comi. Paguei. Fui embora.

Passeio matinal por Cienfuegos

Um dos grandes problemas que os turistas enfrentam em Cuba é o uso do cartão de débito / crédito. Muitos nem sequer funcionam em Cuba, e em quase todos os locais só é aceite dinheiro, então volta e meia temos de ir ao banco trocar euros por Pesos Convertíveis (moeda cubana para turistas).

Esse foi o meu plano matinal, levantei-me cedo e fui logo ao banco para evitar filas, e trocar alguns euros por CUCs, e como me despachei rápido aproveitei para mais outro passeio pelo centro histórico, e para mais algumas fotos. Aquela praça central é bem agradável, e frequentada por muitos habitantes locais.

Dali só me faltava mesmo tomar o pequeno-almoço, preparar a mala e seguir rumo ao próximo destino. Tudo a correr bem, excepto que… depois de andar uns dois quilómetros até ao terminal de autocarro, noto que tenho algo no bolso…, as chaves da casa onde estava!! Como tenho a mania de sair cedo, com receio caso aconteça algo, tive tempo suficiente para voltar à casa particular, devolver a chave, beber água (ofereceram-me água, em Cuba tudo é pago…), e ainda voltei a tempo do autocarro! Tudo correu bem, mas também suei bastante!

O que fazer em Playa Girón?

Porquê Playa Girón?

Não vou mentir, a minha prioridade ao visitar Cuba foi mesmo fazer mergulho. Foi de longe o tema que mais pesquisei, que locais visitar, que locais ficam mais acessíveis e como lá chegar, preços, onde ficar, e tudo mais. O meu plano de viagem foi sempre à volta deste tema, onde vou mergulhar?

A Baia dos Porcos (Bahía de Cochinos em espanhol) é uma das zonas mais populares, tanto pela história como pelo canyon subaquático que tem. A 50 metros da costa o leito do mar tem um desnível quase vertical de 400 metros! Mas ainda assim, não foi nem a minha primeira nem segunda opção. O meu sonho era mesmo visitar os Jardines de la Reina, mas além de ser estupidamente caro também é bem remoto. Não existem muitas alternativas para lá chegar, e só mesmo pagando por excursões de pelo menos 7 dias. A Baia dos Porcos é o destino de mergulho mais acessível, e perfeito para criar uma rota de viagem interessante por Cuba.

Primeiro dia em Playa Girón

Devo admitir que a primeira coisa que me passou pela cabeça quando cheguei foi “Três noites aqui?? Vou morrer de tédio…“. Uma vila bem pequena, e com um planeamente algo peculiar. A zona “central” da vila fica a cerca de um quilómetro da zona habitacional, com um grande descampado pelo meio, onde estão alguns cavalos a pastar. É nessa zona central onde está o hotel principal, o museu e onde param os autocarros. A praia também é ali mesmo ao lado. Mas os poucos restaurantes que existem já ficam na zona habitacional. Não faz sentido nenhum!

Assim que cheguei à casa particular só pensei que iria ficar longe de tudo, na altura ainda não tinha percebido como a vila estava planeada. Mas até nem correu mal, fiquei numa casa com dois quartos e três camas só para mim por três dias! Completamente em privado!

Pôr-do-sol em Playa Girón
Pôr-do-sol em Playa Girón

Depois de instalado, fui passear até à praia e explorar um pouco. O sentimento de que raio vou fazer aqui por três dias aumentava a cada passo que dava em direcção à praia. E a praia? Bem pequena, mas até agradável.

Viajar sozinho às vezes tem as suas desvantagens, e para mim ir à praia é uma delas. Primeiro porque detesto ir à praia para torrar ao sol, prefiro nadar, tirar fotos, ler ou fazer outra coisa qualquer do que simplesmente ficar a torrar. Depois, se quiser ir ao mar não me posso afastar muito pois tenho sempre alguns pertences na praia que podem ser roubados… Em Sydney tive a sorte de ter cacifos para guardar as coisas, mas numa pequena praia em Cuba certamente que não iria encontrar tal coisa.

A praia em Playa Girón chama-se Playa Coco, provavelmente por causa dos coqueiros que existem na praia. E onde fui deixar a toalha? Mesmo debaixo de um coqueiro. Yep, nada inteligente…, mas felizmente não caiu nenhum. No entanto as pessoas que estavam à minha volta notaram que eu estava sempre a olhar para cima, a rapariga do bar da praia veio meter conversa comigo e deixou-me mais à vontade. Disse-me que os cocos ainda estavam demasiado pequenos e que não corria ricos. Claro que seria bem mais fácil simplesmente mudar a toalha…

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Estive um bom bocado a falar com a rapariga, que me contou um pouco da sua vida e da vida em Playa Girón. Me garantiu que a zona é bem segura e que podia ir ao mar, acho que percebeu que estava com receio de que fosse roubado… Lá fui um pouco ao mar, mas percebi logo que não iria longe, o recife de coral chega mesmo à praia, então torna-se um pouco complicado nadar. É preciso atravessar uma área ainda grande de corais até passar da barreira e finalmente poder nadar, mas não fui tão longe.

Entretanto interagi com o grupo que estava ao meu lado, pediram-me para lhes tirar uma foto, mas a comunicação ficou só por ali. Acabei por voltar para a vila sem nenhuma companhia para jantar, mas ainda assim arrisquei em ir a um restaurante sozinho ver se me integrava com alguém. Mas nope, não tive sorte! Como tinha mergulho marcado para o dia seguinte, fiquei-me por um sumo e fui dormir que precisava de descansar!

Primeiro dia de mergulhos em Playa Girón

O centro de mergulho fica mesmo ao lado do hotel de Playa Girón, salvo erro é mesmo o único hotel na vila. Mas como a vila fica um pouco longe do “centro”, o centro de mergulho tem um autocarro que vai buscar quem agendou o mergulho para aquele dia.

Primeiro mergulho em Punta Perdiz
Primeiro mergulho em Punta Perdiz

E o autocarro não decepcionou, um autocarro bem velho do estilo dos autocarros escolares dos filmes americanos! A primeira pessoa que conheci foi uma alemã que estava a ficar mesmo ali ao lado de minha casa, bastante simpática e já se safava bastante bem em espanhol. Fiquei logo a saber um pouco mais da aventura dela, um mês a atravessar Cuba de ponta a ponta! Devo confessar que fiquei com alguma muita inveja…

Conforme fomos apanhando pessoas pelo caminho fui reconhecendo caras, vários que estiveram na praia no dia antes! Até o grupo que me pediu para lhes tirar uma foto! Pronto, é uma vila pequena e de facto não há muito para fazer ali, mergulho é de facto a maior motivação para ir a um local tão isolado…

Mergulhar em Punta Perdiz

O primeiro impacto foi do autocarro, mas já esperava algo do género em Cuba. No entanto no que respeita ao material de mergulho já fiquei surpreendido pela negativa. Não, não sou estava à espera de material topo de gama…, mas esperava colocar a botija às costas sem ter de ouvir fugas de ar…, tipo…, ar é um pouco importante quando se está a alguns metros de profundidade… Tal como eu, outros comentaram o mesmo, ao que nos disseram que era na boa… Devo confessar que fui um pouco a medo, mas depois de entrar na água quase que me esqueci daquela fuga de ar.

Fizemos o debrief, em que nos separaram em alguns grupos, e depois nos colocaram em pares. Tal como é o habitual, por motivos de segurança. O plano seriam dois mergulhos, então os grupos também se dividiram em dois grupos, uns para um lado e outros para o outro. Até aqui tudo bem, mas de início até estava na dúvida se iria haver algum debrief…, mas sim, aconteceu.

Corais no Segundo Mergulho em Punta Perdiz
Corais no Segundo Mergulho em Punta Perdiz

O mergulho em si foi bastante agradável, alguns corais e uma falésia impressionante! Descemos um pouco, mas não demasiado fundo. Supostamente chegámos aos 14 metros, mas nem mesmo o instrutor tinha a certeza quanto à profundidade, então deu-nos o número de 14 metros no final. Estivemos 46 minutos lá por baixo, e eu numa constante maratona a tentar acompanhar o meu parceiro de mergulho, que estava constantemente a ignorar as regras de segurança de andarmos em pares. Até as outras pessoas do grupo comentaram no final…, mas felizmente no segundo mergulho as coisas correram melhor.

No segundo mergulho chegámos a avistar um pequeno barco, mas nada de fenomenal. O outro grupo, de mergulhadores mais experientes, chegaram bem mais fundo e passaram por um pequeno túnel. Eles adoraram essa experiência, nós só vimos o túnel de cima…, mas valeu pelo que vimos. Requer mais prática da nossa parte, enquanto não tivermos a experiência necessária para nos aventurarmos a mais, também os instrutores têm de pensar na segurança do grupo todo. Mas com o tempo lá irei chegar!

Aproveitar o resto do dia em grupo em Playa Girón

Depois das introduções feitas, acabámos por passar o resto do dia juntos. Fomos à mesma praia que tínhamos ido no dia anterior, mas desta vez em grupo. De facto, ir à praia sozinho não tem a mesma graça do que ir em grupo… Depois em conversa é que percebemos que todos tínhamos nos visto na praia no dia anterior, e pelos vistos todos notaram o “parvo” debaixo do coqueiro…, eu mesmo…

Estar com o grupo foi bem agradável, e decidimos ir jantar juntos. A oferta de restaurantes em Playa Girón não é das melhores, e o Lonely Planet também não ajuda muito. É um local pequeno e ainda não “explora” muito o turismo, e em parte ainda bem que assim o é. Dá-nos a oportunidade de descobrir locais novos, como um restaurante que um casal alemão do nosso grupo nos sugeriu.

Cabras na praia em Playa Girón
Cabras na praia em Playa Girón

Fomos todos ao El Butty, o restaurante já quase fora da localidade. Comi uma lagosta brutal! Mesmo saborosa e barata. Acompanhada por algumas piña-coladas… E com a presença de Portugal por todo o lado, um cachecol da seleção portuguesa pendurado.

Fui o primeiro a chegar e deu para meter um pouco de conversa com o dono, que ficou bem contente de saber que um grupo grande estaria para chegar, tudo sem reserva! Em locais como estes, em Cuba, um grupo ir jantar a um restaurante faz toda a diferença. Claro que ele nos deu o melhor serviço que pode!

Segundo dia de mergulhos

Na manhã seguinte lá estávamos nós à espera do autocarro, mas demorou um pouco mais e então decidimos ir a pé, a distância também não era muita. Chegámos quase todos ao mesmo tempo, tratámos dos pagamentos, carregámos o autocarro com o material de mergulho, e lá fomos nós rumo a outro local de mergulho!

Mergulhar em El Tanque

Mais dois mergulhos agendados para este dia! E mais uma vez, como mandam as regras, tudo organizado em pares e separados em dois grupos.

Desta vez os mergulhos foram bastante mais interessantes, no primeiro mergulho descemos um bom bocado do abismo, até aos 24 metros de profundidade. Mergulhar é uma sensação inexplicável, principalmente quando estamos no topo de uma parede tão profunda como a da Baia dos Porcos. É uma sensação quase como que se estivéssemos a voar, ao ponto de quase sentir vertigens tal é a profundidade, simplesmente não dá para ver o fundo. Claro que não conseguir ver o que pode aparecer lá debaixo também mete algum respeito, afinal existem tubarões em Cuba…

Naufrágio em El Tanque
Naufrágio em El Tanque

O instrutor que nos calhou foi outro diferente do do primeiro dia, bastante mais divertido mas também um pouco menos…, profissional? Foi tema de comentários quando voltámos para a vila, afinal de contas ali todos tirámos um curso de mergulho, e uma das regras principais é: não tocar em nada, estamos ali apenas para observar. Foi exactamente o contrário do que o instrutor fez…, é um facto que vi bastantes animais, graças a ele, mas podia simplesmente ter apontado que iríamos lá vê-los nos refúgios deles. Não havia necessidade de tirar um caranguejo gigante de dentro de um buraco para nos mostrar. Tira um pouco do interesse de observar a vida selvagem.

Mas fora isso, foi um dia bem melhor que o dia anterior! No segundo mergulho passámos por cima de um barco naufragado, bem maior que o do dia anterior ao ponto de se poder entrar lá dentro. Mas não pudemos fazer isso…, falta de experiência para tal…

Um detalhe quanto a estes dois mergulhos foi que consumi o oxigénio quase todo! No primeiro mergulho terminei com 10 bar, no segundo com apenas 20! Para terem uma ideia, ambas as botijas estavam com 210 bar quando entrei na água, e um casal inglês que estava connosco terminou com 110 bar! Basicamente eles não respiram debaixo de água…

É frequente os instrutores nos perguntarem quanto ar temos, e temos de responder com gestos, obviamente. São gestos internacionais que aprendemos quando fazemos o curso, e que são sempre relembrados antes de entrarmos na água. Então quando ele me perguntou quanto ar tinha respondi com o punho fechado, que significa 50 bar ou estar na reserva. Ou seja, pouco ar! Ele ficou confuso, e voltou a perguntar, ao que eu reafirmo os 50 bar!

Para ser sincero nem estava preocupado, estávamos já no final do mergulho, e estava a apenas uns dois metros de profundidade. E acho que o instrutor também pensou da mesma forma, visto que continuámos a explorar um pouco mais da zona até chegarmos à praia.

Todos os mergulhos que fiz em Cuba foram do mesmo estilo, entrada directa no mar sem uso de barcos ou plataformas.

Um resto de tarde em Calleta Buena

A zona de Playa Girón tem muito para ver, mas tem a desvantagem de que os acessos não são dos melhores. Felizmente existem muitos taxis e dá para ir a todo o lado, depois de alguma negociação. E claro, que como turistas vamos sempre acabar por pagar mais…, mas é algo que mais vale chegar mentalizado quando se visita Cuba. Turista paga sempre mais.

Bandeiras Portuguesa e Irlandesa em Playa Girón
Bandeiras Portuguesa e Irlandesa em Playa Girón

Mas volto a reafirmar, existe muito para fazer na zona da baia, e Calleta Buena é um desses locais. No entanto, não sei até que ponto recomendo esse local. É engraçado, é algo diferente, mas não é algo que ache que valha o preço. 15CUC com tudo incluído, e para poder entrar. A comida não é das melhores, mas come-se. A bebida também se bebe…, e o local? É tipo um mini-resort para locais, nada de especial. Mas para quem quer passar um dia tranquilo sem querer gastar muito acaba por compensar, 15CUC com tudo incluído acaba por valer a pena, se forem para aproveitar o dia todo. Não foi o nosso caso.

Ir a Calleta Buena foi um plano b), o objectivo era visitar a Cueva de los Peces, que fica para o outro lado, mas como não tínhamos material de snorkel nem mergulho acabámos por optar por ir à Calleta Buena.

Queimar os últimos cartuxos em Playa Girón

Foi o meu último dia em Playa Girón, e devo confessar que me custou imenso ir embora. Acho que aquela zona merecia pelo menos mais uns dois dias para explorar um pouco mais… Mas o dia ainda estava longe de terminar, acabámos por conhecer um casal de espanhóis na barraca de pizzas e fomos dar uma volta pela vila.

De realçar que a comida de rua em Cuba é o que houver. Devido à forma como a comida é distribuída pelo país é normal certos ingredientes faltarem de um dia para o outro. Por exemplo, nas pizzas o menu é o que houver, num dia pode ser fiambre e queijo, no dia seguinte pode ser um queijo totalmente diferente e talvez nem sequer com fiambre.

Na minha opinião é nestes pequenos detalhes que nos apercebemos da verdadeira realidade Cubana e nas dificuldades que aquele povo tem de viver, e se ajustar. Tudo é muito bonito para um turista que vive dentro de uma bolha, mas essa bolha é muito frágil e se soubermos observar bem iremos ver bem mais do que aquilo que está em frente ao nosso nariz.

E foi assim a minha experiência numa pequena vila que de início achava que me iria fartar, e que acabei por me arrepender de não ficar mais tempo…

Por Gil Sousa

Português emigrado em Cork, viajante e apreciador de boa comida.

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